Crítica: "Ti-Ti-Ti"


Divulgação/TV Globo

Depois de um fracasso épico, recorrer ao remake de uma novela consagrada parecia a aposta mais segura que a Globo poderia fazer. Mas “Ti-Ti-Ti”, agora escrita por Maria Adelaide Amaral, não deve ser vista apenas como uma opção conservadora no esforço de recuperar o terreno perdido por “Tempos Modernos”.

A julgar pelo primeiro capítulo, a nova comédia das sete presta homenagem à novela de Cassiano Gabus Mendes, exibida originalmente entre 1985 e 1986, mas vai além e promete algumas novidades.

De cara, parece óbvia a reverência à zona leste de São Paulo --antes um espaço visto como folclórico, hoje entendido como uma área que merece respeito. Um dos protagonistas da nova “Ti-Ti-Ti”, o costureiro Jacques Leclair (Alexandre Borges), mantém um ateliê na região. O seu público-alvo é formado pelas mulheres da nova classe A paulistana, que o reverenciam, mas ele enfrenta a zombaria de seus filhos, modernos, que enxergam no pai a última flor da cafonice.

Ao texto bem-humorado, às vezes zombeteiro, de Maria Adelaide Amaral, contrapõe-se o humor mais infantil do diretor Jorge Fernando, que ajuda a transformar “Ti-Ti-Ti” numa comédia “solar”, para cima, respeitosa com os personagens de quem pretende rir. É uma combinação interessante, sempre perto de escorregar para a galhofa, mas que pode produzir, se mantido o ritmo da estreia, uma novela das mais divertidas.

Além de fugir do Rio de Janeiro e, mais uma vez, manter o centro da trama em São Paulo, também chamou a atenção no primeiro capítulo a existência de um núcleo localizado em Belo Horizonte. Vamos ver quantos capítulos a turma mineira resiste antes de imigrar para a capital paulista.

É em BH que desenvolve-se outra ousadia, ao menos para o horário --um casal jovem abertamente gay, trocando carinhos em cena. Também chama a atenção em “Ti-Ti-Ti”, ao menos para o público quarentão, o fato de a novela apresentar musas como Malu Mader, Giulia Gam, Claudia Raia e Dira Paes vivendo papéis de mães de filhos crescidos, já no fim da adolescência ou no início da idade adulta.

Primeiro capítulo é cartão de visitas. Na sequência, a novela tem de cinco a seis meses para confirmar ou não as promessas apresentadas. “Ti-Ti-Ti” já passou por isso, 25 anos atrás, o que facilita muito o seu trabalho atual. Mas parece haver algo de novo nesta velha novela. Tomara que consiga manter o ritmo.

Maurício Stycer

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