Crítica: "Ribeirão do Tempo"

Ribeirão do Tempo, estreia da Record nesta terça-feira, tem um pé na teledramaturgia produzida pela Globo no final dos anos 1980.

A fictícia cidade da trama de Marcílio Moraes lembra Ouro Verde, o lugarejo que Lauro César Muniz imaginou para O Salvador da Pátria (1989). Não tem um inescrupuloso radialista como Juca Pirama, mas há um jornal, a Folha da Corredeira, que publica artigos ora favoráveis, ora contrários ao resort que irá mudar o perfil econômico da histórica Ribeirão do Tempo, cidade que remete também à Rio Novo de Walther Negrão, em Fera Radical (1988).

Mas o parentesco de Ribeirão do Tempo é maior com Santana do Agreste, de Tieta, escrita por Aguinaldo Silva em 1989. É pequena e turística.

A história começa justamente quando chega à cidade Eleonora Durrel (Jacqueline Laurence), assim como a personagem de Betty Faria em Tieta. Madame Durrel retorna mais de 50 anos depois, rica, poderosa. Aparentemente, não quer vingança, mas corrigir um erro do passado: encontrar o filho que abandonou na juventude.

Iniciada 22 minutos depois do horário anunciado, Ribeirão do Tempo teve um primeiro capítulo tecnicamente impecável na cenografia, no figurino e na fotografia, bem escrito e dirigido. Mas a trama ficou apenas na apresentação, didática, da cidade e de seus personagens, nas falas do guia turístico Joca (Caio Junqueira) e da executiva Arminda (Bianca Rinaldi).

O mistério, que promete ser uma das marcas da novela, mal deu as caras, numa rápida e enfumaçada sequência em que se tem a impressão de que Diana (Letícia Medina), a menina órfã que se passa por menino, será atacada pelo ermitão Bill (Gilson Moura), portador de um terrível segredo. Porém, como de resto no capítulo inteiro, nada aconteceu.

O telespectador nostálgico dos anos 1980 deve ter adorado a ideia de uma novela ambientada numa cidade interiorana. Mas ficou querendo mais.

(Daniel Castro)

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